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14 lições da conferência global ISOJ 2016 discutidas no Colóquio Ibero-americano de Jornalismo Digital

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  • 25 abril, 2016

Por: Ismael Nafría*

A 17a edição do Simpósio Internacional de Jornalismo Online (ISOJ, na sigla em inglês), o encontro sobre jornalismo digital organizado pelo Centro Knight para o Jornalismo nas Américas, na cidade de Austin, Texas, em 15 e 16 de abril, permitiu descubrir quais as questões que mais preocupam os meios digitais em todo o mundo.

Os palestrantes e participantes do simpósio vindos de 41 países debateram em profundidade questões como a distribuição de notícias em plataformas sociais, o auge dos aplicativos de mensagens e seu uso pela mídia, o jornalismo na realidade virtual, o uso de robôs, o papel da publicidade no modelo de negócios ou jornalismo sustentado por organizações sem fins lucrativos, entre muitos outros temas.

Nas intensas sessões ocorridas durante esses dois dias podem ser tiradas 14 lições ou conclusões, que eu apresentei como um resumo na sessão de abertura do 9o Colóquio Ibero-americano de Jornalismo Digital. Estas são as 14 lições debatidas por quase uma centena de jornalistas da América Latina e Espanha, que participaram do simpósio também realizado em Austin em 17 de Abril, um dia depois do ISOJ:

1.- Não existe fórmula mágica

São muitas as soluções possíveis para os meios digital em temas como modelo de negócio ou aposta jornalística, entre outras questões. O que funciona para um não tem necessariamente que servir para outros, porque há muitos fatores que determinam o compromisso de cada meio (o seu mercado e público-alvo, a sua missão, seus objetivos, etc.)

2.- The New York Times ​aposta no jornalismo, na qualidade, nas assinaturas digitais, por se tornar um hábito diário para seus usuários, por ser um ponto de destino, colocando o usuário no centro de tudo, pelo jornalismo visual, mas nem todos são o The New York Times. De qualquer forma, há muitas lições que a mídia pode extrair deste caso, exposto na sessão de abertura do ISOJ por Kinsey Wilson, editor de inovação e estratégia e vice-presidente executivo de produtos e tecnologia do The New York Times.

3.- O móvel é um protagonista essencial do jornalismo online

É o dispositivo mais usado pelos usuários - em muitos meios se estima que sejam mais de 50%  das visitas -, mas a realidade é que os conteúdos produzidos pelos meios digitais ainda não estão totalmente adaptados para smartphones.

4.- As plataformas de distribuição de conteúdo não podem ser ignoradas

Facebook (com seus artigos instantâneos ou Facebook Live como apostas mais recentes), Google (AMP), Snapchat, Apple News e outros são plataformas que estão apostando decisivamente para distribuir o conteúdo dos meios de comunicação em seus próprios ambientes. Qual é a melhor estratégia a ser seguida pelos meios de comunicação? Não há unanimidade na resposta, mas no significado que pode ter para o futuro da informação. De qualquer forma, se adaptar a cada plataforma e ter suas próprias equipes especializadas são elementos-chave para o sucesso.

5.- Publicidade: a principal via de renda… ​mas levanta questões importantes com fenômenos como o de bloqueadores de anúncios, a visibilidade e eficácia dos anúncios, etc. Veículos como o The Washington Post continuam a acreditar fortemente nela, mesmo com modelos diversificados. Outros apostam em fórmulas alternativas, como o jornal brasileiro Zero Hora com sua assinatura para um tablet.

6.- O jornalismo nonprofit oferece lições muito interessantes para o setor

A experiência bem sucedida de atores como o Center for Investigative Reporting, o Centro para a Integridade Pública, o Projeto Marshall, o Texas Tribune e a ProPublica mostram que o jornalismo sem fins lucrativos é uma alternativa. Não é a solução definitiva, mas uma alternativa sólida para formas mais tradicionais de modelo de negócio da mídia.

7.-  Os aplicativos de mensagem e o uso de robôs

Estamos diante de um novo - e fascinante - território para ser explorado pelos meios de comunicação, eles devem pensar no que fazer nesta área, caso não tenham feito isso. A experiência mostrada em detalhes por Quartz tornou-se uma referência muito útil para se examinar.

8.- Conteúdo visual

O vídeo, ou mais genericamente o conteúdo visual, está adquirindo um protagonismo crescente na oferta dos meios de comunicação. The New York Times sugere, por exemplo, que os elementos visuais sejam integrados em metade da sua produção digital. Os grandes da internet, como o Facebook, também vão nessa linha, e os usuários parecem aderir com entusiasmo.

9.- Experimentação e inovação

É imperativo que os veículos se atrevam a experimentar e a inovar, se querem aprender rapidamente e tomar as decisões corretas. É necessário criar o ambiente adequado na mídia para que experimentar e inovar seja realmente possível.

10.- Realidade Virtual

RV (realidade virtual) abre novas e extraordinárias possibilidades narrativas para os veículos. Seria loucura não para explorá-las o mais rápido possível.

11.- Internet oferece oportunidades maravilhosas

experiência da jornalista cubana Yoani Sanchez e de seu projeto 14ymedio, além de muitos outros projetos de vários países também presentes no encontro de Austin, permite ver que a internet continua a oferecer possibilidades enormes de informação em ambientes onde antes era muito mais difícil.

12.- Os meios locais têm seus própios desafios

Nem sempre a escalada é uma boa solução, porque está associada com os custos que muitas vezes não são assumidos pela mídia local.

13.- Tecnologia e jornalismo devem ser amigos

Hoje em dia já é impossível pensar em projetos digitais sólidos em que a tecnologia e o produto jornalístico não caminhem lado a lado e trabalhem juntos.

14.- As fórmulas de toda a vida persistem

Contar histórias relevantes e interessantes para nosso público, ter diferencial, personalidade, adaptar-se ao ambiente da melhor maneira possível, ir em busca do leitor onde quer que ele esteja... O que a mídia tem tentado fazer ao longo da vida também se aplica ao ambiente digital.

*Jornalista e consultor especializado em meios digitais. Ele pode ser achado aqui: @ismaelnafria.

Nota do editor: Essa história foi publicada originalmente no blog de jornalismo nas Américas do Centro Knight, o predecessor do LatAm Journalism Review.

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