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Ao menos 20 jornalistas mexicanos são agredidos em cobertura de protestos contra o aumento do preço da gasolina

Desde 1 de janeiro, centenas de mexicanos tomaram as ruas de diferentes cidades do país para protestar contra o aumento de quase 20% no preço do combustível. Algumas das manifestações do ‘gasolinazo’, como os protestos ficaram conhecidos, se tornaram violentas, com saques, confrontos com a polícia e pessoas mortas, feridas e detidas.

Como costuma acontecer em situações violentas, os trabalhadores da imprensa são alvos de ataques e agressões durante a cobertura dos atos.

A organização Artículo 19 México registrou que pelo menos 12 jornalistas foram agredidos durante a cobertura dos protestos em Playas de Rosarito, no estado da Baja California, nos dias 6 e 7 de janeiro. Segundo a organização, os ataques contra a imprensa vão desde agressões físicas, atos de intimidação, bloqueio de informação e destruição de equipamentos, até tentativas de detenção arbitrária.

Assim, por exemplo, a jornalista Laura Sánchez, do El Universal, e Luis Alonso Pérez, do Animal Político denunciaram que foram golpeados por membros da "gendarmería", parte da polícia federal, nos protestos de 7 de janeiro. Segundo relatou à Artículo 19, Sánchez gravava a detenção de um menor de idade quando foi atingida no peito por um dos agentes. Tentaram roubar o celular de Pérez, que também gravava a detenção, e depois jogaram o jornalista no chão, onde foi ele foi chutado por ao menos oito agentes, e depois detido por quase uma hora. Ao tentar ajudar o colega, Sánchez foi golpeada de novo.

Outros jornalistas de meios de comunicação como El Sol de Tijuana, Frontera, Uniradio Informa, Síntesis Televisión e até a agência Associated Press também foram agredidos nos protestos nesse estado.

Segundo a Artículo 19, os fatos registrados na Baja California foram perpetrados na sua totalidade por forças do Estado. A organização destacou a Polícia Federal, a Polícia Estatal, a Unidade de Reação Imediata (URI) – que faz parte da Polícia Municipal de Tijuana, assim como a Polícia Ministerial da Baja California.

A organização também identificou agressões de ao menos 8 jornalistas na cidade de Monclova, no estado de Coahuila, durante os protestos de 5 de janeiro. Nessa ocasião, também foram registrados ataques, que incluíram agressões físicas, detenções arbitrárias, intimidações e ameaças. A organização afirmou que as forças policiais foram as responsáveis pelas agressões.

O “aumento alarmante de agressões e atos repressivos” por parte da força pública contra jornalistas e manifestantes, levou a Artículo 19 a acionar a Red Rompe El Miedo (Rompa o Medo) com o objetivo de monitorar os protestos na Cidade do México em 9 de janeiro.

A rede “é uma plataforma de articulação de meios de comunicação” e defensores dos direitos humanos, que tem como objetivo “a proteção e segurança das pessoas e seu trabalho na cobertura de mobilizações sociais ou de alto risco”. A rede foi ativada em 17 protestos na Cidade do México e em eleições a nível nacional desde que foi criada em 2013.

“Article 19 exige que as autoridades da Cidade do México e o Governo Federal levem a cabo as medidas necessárias para garantir os direitos a liberdade de expressão, informação e manifestação. Além disso, que o emprego e a atuação da polícia sejam proporcionais e aderentes a padrões de direitos humanos”, disse a organização no seu site.

Já a Comissão Nacional de Direitos Humanos (CNDH) concedeu medidas cautelares aos jornalistas que ficaram feridos na Baja California.

No comunicado sobre as medidas cautelares, a CNDH também solicitou que a Comissão Nacional de Segurança (CNS) oriente a força pública para “garantir que aqueles que cobrem as mobilizações contra o incremento no preço dos combustíveis como parte de seu trabalho jornalístico, possam fazê-lo sem serem agredidos ou obstaculizados por servidores públicos de tais corporações”.

Da mesma forma, a Comissão de Monitoramento das Agressões e Meios de Comunicação da Câmara dos Deputados do país condenou as agressões e fez um chamado para que as autoridades dêem o “exemplo, respeitando e permitindo o trabalho dos jornalistas que cobrem todas essas atividades”, segundo publicou Noticias MVS.

Os protestos continuam ocorrendo em algumas cidades do país. Assim, por exemplo, em 9 de janeiro, foram registradas 15 manifestações em estradas de Hidalgo, Cidade do México, Durango, Chihuahua, Sinaloa e Oaxaca, de acordo com Animal Político.

Nota do editor: Essa história foi publicada originalmente no blog de jornalismo nas Américas do Centro Knight, o predecessor do LatAm Journalism Review.

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