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ATUALIZAÇÃO: Depois de 15 anos, segundo combatente ex-paramilitar é condenado por crimes contra jornalista colombiana

ATUALIZADO (21/3/16): O ex-paramilitar colombiano acusado do sequestro, tortura e estupro da jornalista Jineth Bedoya Lima, em maio de 2000, foi sentenciado a 28 anos de prisão.

Mario Jaimes Mejía, conhecido como 'El Panadero', aceitou as acusações contra ele em 2 de fevereiro. Ele foi condenado em 18 de março.

Essa é a segunda condenação no caso.

Em 25 de fevereiro. Alejandro Cárdenas Orozco, conhecido como J.J., foi sentenciado a 11 anos e 5 meses de prisão pelo seu papel no sequestro e tortura da jornalista.

"Após 15 anos de batalha contra a impunidade, essa segunda condenação é outro passo significativo a frente na luta de Jineth Bedoya Lima por justiça", afirmou Carlos Lauría, coordenador sênior do programa das Américas da CPJ, de acordo com um release da organização. "Pedimos que as autoridades continuem a busca pela justiça e condenem todos os responsáveis".

ORIGINAL (2/2/16): Quinze anos após o sequestro, a tortura e o estupro sofridos pela jornalista colombiana Jineth Bedoya Lima, um dos homens acusados pelos crimes reconheceu sua culpa.

A Procuradoria Geral da República acusou formalmente Mario Jaimes Mejía, também conhecido como 'El Panadero', em uma audiência ocorrida em 2 de fevereiro, de acordo com a jornalista e com vários meios de comunicação locais.

"Após 15 anos, o primeiro dos meus sequestradores reconheceu o meu sequestro, tortura e estupro. Não é a sua vitória! É das vítimas!!!", escreveu Bedoya em seu perfil no Twitter.

Um ano atrás, Jaimes Mejía, um dos ex-chefes da organização paramilitar Autodefesas Unidas da Colômbia, havia sido levado a julgamento pela acusação, mas o processo não avançou por causa de "atrasos injustificados", segundo a Fundação Free Press (GIRO).

No entanto, desta vez Jaimes Mejía não só reconheceu a culpa, mas também se desculpou com a jornalista, segundo informou a revista Semana.

Em 25 de maio de 2000, Bedoya Lima foi sequestrada na entrada da prisão La Modelo, em Bogotá, onde havia chegado para uma entrevista. De acordo com a acusação, 'El Panadero' teria participado da reunião em que o rapto do jornalista foi planejado. O encontro ocorreu na prisão e foi organizado pelos chefes paramilitares hoje mortos José Miguel Ruiz Arroyabe e Ángel Custodio Gaitán, segundo o jornal El Tiempo.

Também estava na reunião Jaimes Mejía, que contatou a jornalista sobre a entrevista no centro de detenção, disse o jornal El Espectador.

No momento do sequestro, Bedoya Lima estava investigando a morte de 26 detentos na prisão La Modelo de Bogotá e sua relação com o tráfico de armas dentro da penitenciária. O negócio foi gerido por paramilitares que foram mantidos na prisão, informou o El Espectador.

No entanto, a reporter foi parada na entrada da prisão e sequestrada por 16 horas, espancada, ameaçada de morte e abusada sexualmente. Após estas humilhações, ela foi abandonada perto da cidade de Villavicencio, no departamento de Meta, no centro da Colômbia.

Na audiência de 2 de fevereiro, 'El Panadero' reconheceu que esses eventos foram realizados para "calar" a jornalista por alegações que ela vinha fazendo sobre corrupção nas prisões, segundo o El Espectador.

Em setembro de 2012, os crimes contra a Bedoya Lima foram declarados crimes contra a humanidade e enquadrados em um contexto de violência sistemática contra a imprensa na Colômbia. Na época, o promotor reconheceu que "os ataques a jornalistas constam como método de guerra, a fim de silenciar a voz daquele que se atreveu a expor à opinião pública os excessos e as violações do paramilitarismo."

Precisamente porque são crimes contra a humanidade, tanto a acusação quanto o advogado da jornalista, que também é o diretor-executivo da FLIP, Pedro Vaca, pediram pena máxima e que não houvesse redução na sentença.

"Nós só podemos pedir ao juiz que receba este processo que funciona na Justiça", disse Bedoya em uma mensagem via Periscópio. "É entendido que o reconhecimento por um criminoso, que por 15 anos negou a verdade e agora decidiu aceitar isso, não merece uma redução de sentença, merece que a Justiça tenha uma resposta eficaz e dura aos crimes contra a humanidade como a violência sexual."

Na mensagem de quase cinco minutos de duração, Bedoya também agradeceu o apoio que recebeu em sua "luta" de mais de 15 anos. Ela especificamente agradeceu aos outros "sobreviventes" que também contaram suas histórias. No entanto, ela foi enfática ao declarar que a verdade sobre seu caso ainda não é conhecida e, portanto, ela convocou a comunidade para continuar lutando.

"Este é o caminho. Continue procurando pela verdade. A verdade é que a única coisa que pode restaurar os direitos no nosso país, a verdade é a única coisa que pode realmente trazer-nos a cura. E este é um momento histórico para a Colômbia".

Em relação aos crimes contra a Bedoya, ainda existem processos abertos contra os ex-paramilitares  Alejandro Cárdenas Orozco, também conhecido como 'JJ', e Jesús Emiro Pereira Rivero, informou a revista Semana.

Em Junho de 2015, Cárdenas Orozco foi colocado em liberdade depois que um juiz determinou que não havia nenhuma evidência para continuar a investigação contra ele. Após indignação causada por esta decisão, o procurador-geral do país ordenou sua recaptura.

Devido à falta de justiça no seu caso, Bedoya Lima processou o Estado colombiano perante a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) em 2011. Em 2014, a Comissão aceitou o caso.

Nota do editor: Essa história foi publicada originalmente no blog de jornalismo nas Américas do Centro Knight, o predecessor do LatAm Journalism Review.

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