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Banco de Investigações Jornalísticas traz experiências de repórteres da América Latina

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  • 3 setembro, 2015

Por Yenibel Ruiz

Jornalistas da América Latina têm agora uma ferramenta que lhes permite conhecer as melhores investigações jornalísticas publicadas na região. Trata-se do Banco de Investigações Jornalísticas (BIPYS) criado pelo Instituto Imprensa e Sociedade (IPYS), que o público pode acessar desde o dia 6 de julho, após o pagamento de uma assinatura.

Atualmente, o BIPYS conta com mais de 300 trabalhos, a maioria reconhecida pelo Prêmio Latino-americano de Jornalismo de Investigação, entregue há 13 anos pelo IPYS e Transparência Internacional.

Ao ter um “acesso privilegiado” às melhores experiências latino-americanas, o IPYS percebeu a necessidade não só de sistematizar a informação, como também de compartilhá-la com jornalistas, editores e estudantes de jornalismo interessados em realizar investigações.

Centro Knight para o Jornalismo nas Américas falou com Ricardo Uceda, diretor-executivo do IPYS, que considerou necessário conhecer e compartilhar informações sobre como os jornalistas começavam suas investigações, quanto tempo levavam, se tinham orçamento do veículo de comunicação direcionado pra isso ou não, entre outras.

“Não creio que exista outra fonte de conhecimento na América Latina que tenha a história do jornalismo investigativo latino-americano como a que o banco registra", afirmou Uceda.

O banco não apenas permite acessar destacadas investigações, mas cada uma vem acompanhada de um guia metodológico que explica sua realização e uma entrevista com o autor ou os autores.

Durante a conversa com o Centro Knight, Uceda disse que a ideia era criar um sistema que conseguisse que esta informação fosse aproveitável para jornalistas e ao qual todos pudessem acessar. Um site onde o jornalista pudesse “baixá-la, aproveitá-la, estudá-la”.

O banco, contudo, não é uma plataforma de publicação, mas uma ferramenta para que jornalistas aprofundem seus conhecimentos sobre o que foi feito no jornalismo da região.

Embora o material do Banco contenha principalmente informações sobre os ganhadores do prêmio convocado por IPYS, se algum jornalista que não o ganhou estiver interessado em fazer parte dele, pode entrar em contato com a organização. Os requisitos são que a investigação tenha sido publicada e que seja um trabalho exemplar.

Atualmente, o BIPYS registra principalmente histórias de denúncias de corrupção como 'As contas suíças de Menem e seu secretário privado', da Argentina; 'A venda secreta de armas de Chile a Equador em pleno conflito do Cenepa' e ‘As contas obscuras da campanha presidencial de Rafael Correa’, do Equador; ‘Conexão internacional das FARC’​, da Colômbia, o ‘Caso Antonini: as relações de Moisés Maionica com o governo e a empresa privada’, da Venezuela, entre outras.

A corrupção é o principal tema das reportagens por se tratar do enfoque que o prêmio tinha nas primeiras convocatórias, como explicou Guilherme Canela, conselheiro da Unesco para América Latina, organização que atualmente promove a difusão do BIPYS.

“É inegável que o jornalismo investigativo continua focado na corrupção. Contudo, nós, da Unesco, pensamos que é necessário trazer também à tona outros elementos e mostrar que há gente que o faz de forma muito qualificada. Os ganhadores do Pulitzer este ano escreveram sobre violência doméstica”, disse Canela em entrevista à agência EFE.

Ee destacou ainda outras investigações com enfoque em direitos humanos e cuja informação pode ser obtida sem a necessidade de uma fonte secreta. De fato, para Canela este é um dos aportes do banco, mostrar o uso que jornalistas dão às leis de acesso à informação.

“Em muitos casos, foram estratégias do próprio jornalista para acessar a informação ou processar dados disponíveis”, afirmou Canela, fazendo referência a trabalhos disponíveis no BIPYS.

Por tal motivo, está convencido de que as investigações ali expostas ajudam a promover o acesso à informação e a liberdade de expressão, o que destaca o papel do jornalismo na democracia.

Um ponto com o qual concorda Uceda, que considera que o BIPYS pode ser útil também para que a sociedade avalie o papel da imprensa na democracia de seus países.

“No banco há investigações de mais de 10 presidentes, denúncias como, por exemplo, a do enriquecimento ilícito de juízes no Equador. Revaloriza o papel do jornalista”, concluiu.

Como acessar o banco?

Para poder ter acesso a todas as investigações é preciso se registrar. Embora ainda faltem questões para definir sobre o proceso de registro, as pessoas interessadas em ter acesso imediato ao banco podem se comunicar diretamente com o IPYS.

De acordo com Uceda, parte do projeto é que as universidades com interesse em um acesso sistemático se inscrevam e paguem uma cota anual. De igual forma, os jornalistas que quiserem acessar permanentemente teriam que pagar essa cota.

Contudo, se um usuário quiser consultar a plataforma para buscar uma informação específica, pode entrar em contato com o BIPYS.

Como funciona o BIPYS?

IPYS Venezuela sistematiza a informação da seguinte forma:

  • As investigações podem ser encontradas na página web graças a um motor de busca que permite cruzar critérios como país, nome do autor, ano da publicação e temática.
  • O banco oferece trabalhos que abordam todos os âmbitos da vida pública, entre eles corrupção de funcionários, más práticas empresariais, crime organizado, meio ambiente, segurança nacional, direitos humanos, entre outros.
  • Cada semana BIPYS selecionará um grupo de investigações que os usuarios poderão baixar gratuitamente, assim como consultar suas origens, fontes, metodologia, revelações e impacto.
  • Também permitirá acessar entrevistas com os autores.
  • O banco, progressivamente, vai oferecer também material audiovisual produto de outros projetos do IPYS, a Conferência Latinoamericana de Jornalismo de Investigação.

Embora o banco esteja em sua fase inicial, Uceda sabe que não quer parar aqui e está pensando em uma segunda etapa que permita “expandir a ferramenta aos mais interessados”.

Nesta segunda fase, o objetivo é que as universidades que assinem o banco tenham um representante que participe em um fórum da Conferência Latino-americana de Jornalismo de Investigação (Colpin) – também organizada po IPYS – para fazer “uma revisão e reflexão sobre como abordar a capacitação e o ensino”, concluiu.

Nota do editor: Essa história foi publicada originalmente no blog de jornalismo nas Américas do Centro Knight, o predecessor do LatAm Journalism Review.

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