Por Ingrid Bachmann
"Não cabe de modo algum que qualquer ator possa pactuar, promover uma trégua ou negociar com criminosos”. Com estas palavras, o porta-voz do governo federal do México, Alejandro Poiré, criticou o editorial do jornal El Diario de Juárez, que pediu trégua ao crime organizado após o assassinato de um de seus fotógrafos, informam o El Universal e o La Jornada. (Leia matéria do jornal O Globo aqui.)
Apesar de existir no México uma procuradoria especial para crimes contra jornalistas, o porta-voz do governo descartou que o crime contra Luis Santiago Orozco, um estagiário em fotojornalismo, tenha ocorrido por motivos profissionais, e por isto a justiça federal não investigará o caso, acrescentou o Milenio. O El Diario explica que a procuradoria do estado de Chihuahua será o órgão responsável por resolver o crime, o qual considera provocado por motivos pessoais.
Em um editorial, o El Diario rejeitou a versão oficial do assassinato. "Um assassinato por motivos pessoais normalmente não é cometido no meio do dia, no estacionamento de um shopping tão movimentado, nas condições em que este foi realizado, com todo o estilo de um profissional do crime organizado", diz o texto.
Além disso, o subeditor do jornal de Ciudad Juárez afirmou que o governo federal não tem autoridade moral para questionar a decisão do El Diario, em especial se forem considerados os casos resultantes da guerra ao narcotráfico empreendida pelo presidente Felipe Calderón, explica o La Crónica de Hoy. Desde 2006, a ofensiva contra o crime organizado já causou a morte de 28 mil pessoas.
Desde a publicação do pedido de trégua, várias organizações de imprensa manifestaram sua preocupação pelas concessões que o jornal El Diario de Juárez poderia fazer ao narcotráfico. O Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ) destacou que trata-se de um sinal de que o governo deve intervir de forma urgente na crise que afeta a imprensa mexicana e informou que uma delegação conjunta do CPJ e da Sociedade Interamericana de Imprensa se reunirá na quarta-feira com o presidente Calderón para discutir essas questões.
Nota do editor: Essa história foi publicada originalmente no blog de jornalismo nas Américas do Centro Knight, o predecessor do LatAm Journalism Review.
