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Guatemala segue os passos do México: Como exercer o jornalismo em tempos de violência?

assassinato do cantor argentino Facundo Cabral após uma apresentação na Guatemala, no sábado 9 de julho de 2011, chamou a atenção do mundo para o país. Embora a violência esteja aumentando, a situação da Guatemala acaba ofuscada pela devastação causada pelas disputas entre narcotraficantes e a guerra contra as drogas no México, onde mais de 35 mil pessoas já morreram desde 2006. Ainda que os assassinatos de jornalistas não sejam tão comuns na Guatemala como se tornaram no México, a escalada da violência também está impondo limites à imprensa do país, segundo o Instituto Imprensa e Sociedad (IPYS).

Que riscos enfrentam os jornalistas que cobrem a violência? Como a violência afeta a rotina profissional? Que dificuldades a violência impõe ao exercício do jornalismo, incluindo o que é efetivamente publicado? Essas são algumas das perguntas que Claudia Méndez, editora de temas especiais do elPeriódico e apresentadora de um telejornal do Canal Antigua, discutiu em uma entrevista publicada no portal Clasesdeperiodismo.

Assim como seus colegas mexicanos, o jornalistas guatemaltecos enfrentam ameaças, violência e censura. Segundo Méndez, embora haja mais liberdade de imprensa hoje do que há 20 anos, "nos últimos meses tenho visto o medo e o susto na nossa mídia: especialmente em temas relacionados ao narcotráfico, os sinais são evidentes".

"Os nomes dos autores das matérias desapareceram. Há temas que, como editora, eu jamais pediria a um repórter para apurar", acrescentou a jornalista ao detalhar o impacto da crescente violência ligada ao narcotráfico e apontar um dos possíveis motivos de sua expansão no país: a chamada "cultura da impunidade" na Guatemala.

Ela afirma ser possível fazer um jornalismo investigativo nessas circunstâncias, mas ressalta a necessidade de "cautela". "Não me esqueço de quando, após a morte de 27 trabalhadores rurais em uma propriedade no Norte do país, os repórteres disseram: 'Não vamos assinar nenhuma matéria'. Um deles, jovem, estava realmente assustado. Ainda assim, abordamos os temas, seguimos adiante, mas com muita cautela", enfatizou.

A violência de narcotraficantes mexicanos no Norte da Guatemala é tamanha que o jornal El País destacou, no dia 19 de maio: O cartel mais sanguinário se apodera do Norte de Guatemala. Em entrevista ao jornal espanhol, o presidente do país, Álvaro Colom, afirmou que os narcotraficantes "estão invadindo" não apenas a Guatemala, como a América Central. "Ou nos juntamos todos para lutar contra eles ou nos derrotarão e acabarão com nossas democracias... precisamos de uma espécie de OTAN contra o crime organizado".

Especula-se que os assassinos de Facundo Cabral tinham como alvo, na verdade, o empresário que viajava com o cantor argentino.

Depois de a agência Cerigua informar, em abril, que a autocensura estava aumentando nas zonas mais ameaçadas pelo narcotráfico, dois jornalistas foram assassinados no país: Yensi Ordóñez e Jorge Manchamé, cujas mortes ainda não foram solucionadas. Além disso, várias faixas com supostas ameaças de narcotraficantes mexicanos à imprensa apareceram em maio.

Nota do editor: Essa história foi publicada originalmente no blog de jornalismo nas Américas do Centro Knight, o predecessor do LatAm Journalism Review.

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