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Jornal mexicano Norte fecha edições impressa e digital por falta de garantias após assassinato de jornalista

Esta história foi atualizada para informar sobre o fechamento posterior da versão digital do jornal Norte de Ciudad Juárez e a crise financeira do diário.

O jornal mexicano Norte de Ciudad Juárez fechou o seu portal de notícias Norte Digital na noite de 4 de abril, dois dias depois de publicar o editorial de despedida da sua última edição impressa. As duas edições foram fechadas por decisão do seu editor, Óscar Cantú Murguía, por falta de garantias e segurança para exercer o jornalismo crítico no país.

A decisão do fechamento completo do jornal ocorre dez dias depois do assassinato de uma das suas principais colaboradoras e ex-diretora editorial, Miroslava Breach Velducea.

“14 dias se passaram do assassinato da jornalista Miroslava Breach Velducea, e o seu caso continua impune!”, foi o último comunicado da sua plataforma digital, que mostra também uma imagem do último editorial do jornal impresso.

Cantú Murguía declarou em 3 de abril ao El Universal: “Vemos como as três esferas de governo, federal, estadual e municipal, levaram adiante uma política de estrangulamento dos meios de comunicação. É uma violência institucionalizada, francamente não há condições nem de segurança, nem econômicas para continuar o trabalho”.

Na sua última coluna editorial impressa, o diretor explicou: “A trágica e dolorosa morte de Miroslava Breach Velducea – nossa colaboradora – no último 23 de março, me fez refletir sobre as condições adversas em que se desenvolve o exercício do jornalismo atualmente. O risco é o ingrediente principal”.

“Neste dia, estimado leitor, me dirijo a você para lhe informar de que tomei a decisão de fechar este jornal porque, entre outras coisas, não há garantias e nem a segurança para exercer o jornalismo crítico, de contrapeso”, indicou Cantú Murguía em seu editorial.

“Tudo na vida tem um início e um final, um preço a pagar. E se esse preço é a vida, não estou disposto que nenhum outro dos meus colaboradores o pague, nem mesmo eu”, enfatizou Cantú Muguía.

De acordo com o jornal mexicano La Jornada, o motivo do assassinato de Breach Velducea teria sido as suas investigações jornalísticas sobre a influência do narcotráfico nos órgãos governamentais, principalmente. Breach também era correspondente do La Jornada desde 1997.

Cantú Murguía também destacou que, nos 27 anos de existência do jornal, a sua equipe de jornalismo lutou contra a corrente, por denunciar atos de corrupção e práticas negativas de governo.

Também indicou como um dos motivos do fechamento o descumprimento e a “soberba” negativa do governo em pagar a dívida contraída nos últimos anos com o jornal “por prestação de serviços”.

De acordo com Sin Embargo, Norte passava, nos últimos meses, por uma das suas crises financeiras mais profundas, após o atual governador de Chihuahua, Javier Corral Jurado, cancelar os contratos de informação e publicidade estatal que mantinha com o meio. Corral também teria adiado por mais de oito meses o pagamento dos serviços prestados anteriormente pelo Norte, denunciou Cantú, segundo Sin Embargo.

mês de março é o período mais violento contra a imprensa no México desde 2012, segundo a organização Artigo 19 México, após três jornalistas terem sido mortos e dois terem sofrido tentativas de assassinato, publicou Sin Embargo.

Cecilio Pinedo Birto foi assassinado em 2 de março em Guerrero, Ricardo Monlui Cabrera em 19 de março em Veracruz, e Miroslava Breach em 23 de março em Chihuahua. Além disso, em 28 e 29 de março, respectivamente, Julio Omar Gómez em Baja California Sur e Armando Arrieta Granados em Veracruz sofreram graves atentados.

Nota do editor: Essa história foi publicada originalmente no blog de jornalismo nas Américas do Centro Knight, o predecessor do LatAm Journalism Review.

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