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Quase três anos após o crime, um dos assassinos do jornalista mexicano Javier Valdez foi condenado

Javier Valdéz. (Foto: Luis Antonio García Sepúlveda/Creative Commons).

Javier Valdéz. (Foto: Luis Antonio García Sepúlveda/Creative Commons).

O homem que admitiu ter participado do assassinato do jornalista investigativo mexicano Javier Valdez, morto a tiros em 15 de maio de 2017, recebeu uma sentença de 14 anos e oito meses de prisão.

Heriberto Picos Barraza, conhecido como "El Koala", foi condenado em 27 de fevereiro por um tribunal federal em Culiacán, Sinaloa, depois de admitir ser um dos responsáveis pelo assassinato de Valdez, informou Ríodoce. "El Koala" foi capturado como suspeito do assassinato de Valdez em 23 de abril de 2018 em Tijuana e depois transferido para Culiacán, de acordo com o La Jornada de Baja California.

A Procuradoria Especial para Atenção aos Crimes cometidos contra a Liberdade de Expressão (Feadle) havia solicitado uma pena mínima de 22 anos para Picos Barraza, mas ela foi reduzida em um terço para que o acusado participasse de um processo abreviado de julgamento, segundo publicou o Animal Político

"Esta é a primeira sentença no caso do assassinato do repórter mexicano Javier Valdez, e a primeira sentença a nível federal no caso do assassinato de um jornalista sob o novo sistema jurídico mexicano", disse Jan-Albert Hootsen, o representante no México do Comitê para a Proteção de Jornalistas (CPJ) pelo Twitter.

Picos Barraza também foi condenado a pagar uma reparação de 9 milhões de pesos mexicanos, 50.268 pesos mexicanos para despesas funerárias e 2,7 milhões de pesos mexicanos por danos morais, publicou a Ríodoce. A Comissão Executiva de Atenção às Vítimas, um programa para vítimas desse tipo de crime, será responsável pelo pagamento de todas as reparações (cerca de US$ 61.000 no total), informou o portal.

Depois de ouvir a sentença, de uma sala contígua, a esposa de Valdez, Griselda Triana, disse: “Não há nada que possa pagar, nem haverá uma sentença suficiente, haverá um pouco de Justiça, mas não haverá verdade, essa é uma dívida que permanece para nós e para a sua família”, publicou Ríodoce.

Outro dos acusados pela morte de Valdez é Juan Francisco Picos Barrueta, que não aceitou o procedimento abreviado porque sua sentença teria sido de 20 anos e oito meses, informou Noroeste. Picos Barrueta, também conhecido como "El Quillo", tem outros dois processos em andamento por porte de armas de fogo de uso restrito das forças armadas, segundo o site.

A próxima audiência do julgamento de Picos Barrueta está marcada para 25 de março, em Culiacán, publicou Hootsen no Twitter

"A sentença de 'El Koala' é um avanço bem-vindo em relação ao assassinato de uma das vozes mais corajosas, críticas e independentes do México", disse Hootsen, segundo o CPJ. "No entanto, as autoridades mexicanas devem fazer tudo o que estiver ao seu alcance para levar todos os envolvidos ao tribunal, para fazer justiça a Javier Valdez e servir como esperança para conter a desenfreada impunidade de crimes contra jornalistas" ele acrescentou.

Segundo La Silla Rota, Picos Barraza foi identificado como membro do cartel de Sinaloa, pertencente ao grupo do líder Dámaso López Núñez, conhecido como "El Licenciado", e Dámaso López Serrano, conhecido como "El Mini Lic".

Segundo as provas da Feadle, os depoimentos de duas testemunhas apontam para "El Mini Lic" como o suposto autor intelectual do crime. Segundo as testemunhas, "El Mini Lic" ofereceu a eles 100 mil pesos mexicanos e um posto de confiança em troca do assassinato de Valdez, uma proposta que as testemunhas da acusação rejeitaram, publicou Ríodoce. Testemunhas também afirmaram que "El Mini Lic" ofereceu o mesmo a "Quillo" e "Koala".

Uma das testemunhas teria dito que "Quillo" admitiu que o motivo do assassinato de Valdez tinha sido uma nota jornalística que tinha desagradado "as pessoas de El Dorado", publicou Aristegui Noticias.

Dámaso López Serrano está preso em uma prisão de San Diego desde 2017, depois de se entregar à Administração para o Controle de Drogas dos EUA (DEA, na sigla em inglês), segundo publicou Ríodoce. O chefe da Feadle, Ricardo Sánchez Pérez del Pozo, informou no final de janeiro que o processo de extradição de López Serrano por parte da embaixada dos Estados Unidos no México já havia começado.

Valdez, jornalista e co-fundador da Ríodoce, morreu ao meio-dia em 15 de maio de 2017. Seu carro foi interceptado, e ele foi metralhado a poucos metros de seu escritório, em Culiacán, Sinaloa. O jornalista cobria o tráfico de drogas em sua cidade e foi autor de vários livros sobre narcotráfico. Ele também recebeu prêmios de prestígio como o  Press Freedom Award do CPJ em 2011 e, no mesmo ano, o Maria Moors Cabot da Columbia University.

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