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Violência e assédio dos governos são os maiores desafios do jornalismo nas Américas, de acordo com o CPJ

O papel do jornalista como guardião da democracia encara cada vez mais perigos devido ao aumento da violência do crime organizado e à repressão e corrupção dos governos no hemisfério ocidental, manifestou nesta terça-feira Carlos Lauría, coordenador para as Américas do Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ), no parlamento americano.

Durante a audiência pública do sub-comitê sobre o Hemisfério Ocidental da Câmara dos Deputados, Lauría explicou que no contexto atual de agitação política e debilidade institucional dos países da região, a mídia e os jornalistas que reportam sobre crimes, corrupção e abusos aos direitos humanos desempenham um trabalho de alto risco.

No México, mais de 50 jornalistas desapareceram ou foram assassinados nos últimos seis anos, tornando o país um dos mais mortais para a prática jornalística  no mundo. A violência do crime organizado e a corrupção têm devastado os meios de comunicação, tirando dos cidadãos os seus direitos à liberdade de expressão e acesso à informação, disse Lauría. “Um clima de impunidade generalizada aumenta o problema”, ressaltou.

Em abril deste ano, a CPJ aplaudiu a aprovação no México da lei que concede às autoridades federais a jurisdição sobre os crimes cometidos contra a liberdade de expressão, considerada um avanço na luta contra a impunidade. Espera-se que com esta nova lei, o governo do presidente mexicano Enrique Peña Nieto mostre maior vontade política para impor a justiça.

O jornalista local é o que paga o preço mais alto, pois em todo o mundo, segundo o relatório da CPJ, nove em cada dez jornalistas morrem por investigar temas de sua própria comunidade.

O representante da CPJ também citou o caso de Honduras, país que tem o índice de homicidios mais alto do mundo, segundo um informe estatístico da Organização das Nações Unidas (ONU). Desde julho de 2009, foram mortos 16 jornalistas hondurenhos, três deles em represália direta por suas investigações.

No Brasil, continuou Carlos Lauría, outro país entre os mais inseguros para os jornalistas e décimo no Índice de Impunidade da CPJ deste ano, quatro repórteres foram mortos até agora em 2013. No ano passado morreram dez, nove dos quais reportavam sobre corrupção de autoridades e outros crimes dentro de suas cidades, informou a CPJ.

Colômbia continua entre os mais perigosos para o exercício do jornalismo a nível mundial, com 44 jornalistas assassinados desde 1992 até o momento. Apesar do número de jornalistas assassinados ter diminuído, as ameaças aumentaram. O editor chefe da unidade de investigação da revista Semana, Ricardo Calderón, sofreu uma tentativa de assassinato em maio passado, de acordo com o relatório da CPJ.

Lauría acrescentou que o descaso de muitos governos pelas instituções democráticas e sua busca de controle do fluxo de informação, definindo os jornalistas críticos como a oposição, aumentam a intolerância das autoridades aos meios de comunicação que as questionam.

O caso da Venezuela, por exemplo, é o mais claro da falta de tolerância frente à diversidade de opiniões. Um estudo da CPJ mostra que nos últimos 14 anos a Venezuela utilizou diferentes leis, medidas reguladoras e decisões judiciais que progressivamente foram aniquilando a imprensa privada e independente.

Equador e sua Lei de Comunicação, aprovada em junho, representa uma séria afronta à liberdade de expressão, segundo a CPJ e outras organizações regionais e internacionais de defesa da liberdade de imprensa.

Lauría concluiu sua fala destacando os recentes acontecimentos nos EUA, como a agressiva perseguição aos informantes que vazaram documentos confidenciais à imprensa, e a massiva e indiscriminada vigilância das comunicações que foram reveladas pelo ex-analista da CIA Edward Snowden.

Nota do editor: Essa história foi publicada originalmente no blog de jornalismo nas Américas do Centro Knight, o predecessor do LatAm Journalism Review.

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