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Cobrir violência em El Salvador é muito mais que contar corpos, diz editor de jornal digital

Os jornalistas da América Central não estão preparados para cobrir a violência, o crime organizado e o tráfico de drogas que migram do México em direção ao Sul do continente, afirmou Carlos Dada, editor e fundador do jornal digital de El Salvador El Faro e vencedor do Prêmio para a Imprensa da Associação de Estudos Latino-Americanos em 2010.

Dada falou sobre a "cultura da violência" em El Salvador e dos desafios da reportagem nesse contexto durante uma palestra na Universidade do Texas em Austin (UT), no dia 17 de novembro de 2010. Sua apresentação fez parte da série de palestras "América Central: Democracias Rompidas?", patrocinada pelo Instituto de Estudos Latino-Americanos Teresa Lozano Long da UT e pela Cátedra Harte Sobre a América Látina e a Imprensa.

"No El Faro, não gostamos de contar corpos", disse Dada. "A única maneira de responder à violência é com um jornalismo aprofundado, um jornalismo narrativo e investigativo".

Por isso, acrescentou, o El Faro está buscando recursos para montar uma redação especial, apenas para cobrir a violência na América Central, já que "nossa primeira missão é entender o que está acontecendo e isso não é fácil".

A ausência de instituições fortes contribui para a violência em El Salvador, argumentou Dada, assim como a falta de um senso comunitário e a impunidade. Ele citou a história de uma mulher cuja filha fora assassinada por um vizinho, mas que não foi à polícia porque tinha outras cinco meninas e temia perdê-las também. Outra caso mencionado foi o de uma adolescente de 16 anos estuprada por 18 garotos entre 11 e 25 anos.

"Essa é a violência pela violência, então o que fazemos com essas pessoas?", questionou Dada, emendando: "Precisamos de instituições mais fortes, precisamos de mais recursos, precisamos de ferramentas eficientes para ter justiça e uma vida melhor. Quando você completa 15 anos, tem três opções: se tornar uma vítima, fazer vítimas ou vir para os EUA".

Em outubro, também como parte da série de palestras, o veterano jornalista Carlos Fernando Chamorro, da Nicarágua, falou sobre os desafios da democracia e a liberdade de imprensa em seu país.

Nota do editor: Essa história foi publicada originalmente no blog de jornalismo nas Américas do Centro Knight, o predecessor do LatAm Journalism Review.

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