texas-moody

Debate sobre a legalização das drogas domina a pauta da imprensa nas Américas

Com o México e a América Central chegando a níveis recordes de violência - principalmente devido à escalada do tráfico de drogas - o presidente da Guatemala Otto Pérez Molina pretende levantar a controversa questão da legalização das drogas na Sexta Cúpula das Américas, a ser realizada em Cartagena, Colômbia, nos dias 14 e 15 abril. Como as análises feitas por ex-presidentes do Brasil, Colômbia e México observaram, 40 anos de esforços concentrados na luta contra as drogas não conseguiram reduzir o sempre crescente ritmo de produção e utilização da droga, o que indica que já é hora da região ter uma nova abordagem, de acordo com um artigo publicado em veículos de notícias de toda a região, incluindo o The Huffington Post.

Desesperado para diminuir a violência do tráfico, Perez, em um editorial publicado no The Guardian, escreveu: "Nossa proposta, enquanto governo da Guatemala, é abandonar qualquer posição ideológica (a favor ou não da liberalização) e promover um diálogo global intergovernamental baseado numa abordagem realista – a regulação das drogas. Consumo, produção e tráfico de drogas devem estar sujeitos a regulamentações globais, o que significa que o consumo e a produção deveriam ser legalizados, mas dentro de certos limites e condições. E legalização não significa liberalização sem controles."

Por toda o continente americano, jornais estão absorvidos pela cobertura da proposta de regulação, com muitos jornalistas -- que muitas vezes se tornam os alvos de ataques do narcotráfico por informar sobre o crime organizado-- convencidos de que a regulação seria um longo caminho para conter a violência e proteger a liberdade de expressão. Apenas no México, pelo menos 70 jornalistas foram assassinados pela violência do narcotráfico nos últimos anos. 2011 foi considerado o ano mais trágico para a imprensa na América Latina em duas décadas. Veja o mapa do Centro Knight sobre os ataques à imprensa no México e na América Central.

"Parece que o público está se aproximando do ponto onde se tornou confiável dizer muito francamente que a guerra contra as drogas não funcionou", disse Larry Birns, diretor-executivo do Council on Hemispheric Affairs, citado pelo jornal Hawaii Daily News.

O site de notícias InSight Crime mapeia a posição de cada país sobre o tema da legalização das drogas e oferece pontos de vista de diferentes especialistas no assunto.

Uma análise de Martín Rodríguez Pellecer para o jornal digital guatemalteco Plaza Pública observa que a proposta do presidente da Guatemala estimulou México, Colômbia, Costa Rica e outros países a explorar a possibilidade da regulação, o que sugere que a proposta de Pérez Molina "colocou a Guatemala no centro do debate mundial que poderia ser só o início do fim da guerra contra as drogas".

Os Estados Unidos, apesar de solidário à situação dos países latino-americanos, cansados ​​da violência e dos problemas sociais provocados pelo consumo de drogas, permanece veementemente contra qualquer forma de descriminalização das drogas, explicou The New York Times. O presidente de El Salvador, Mauricio Funes, também rejeitou a ideia da legalização, preocupando-se com o fato de que a região pode se tornar um "paraíso" para usuários de drogas, de acordo com a Prensa Libre. Um editorial no jornal Washington Post questionou se prejudicar os cartéis e reduzir os custos de segurança valeriam a pena diante do aumento de problemas de saúde decorrentes de um aumento no consumo pós-legalização.

No que diz respeito à cobertura do tema na Guatemala, o maior jornal do país, Prensa Libre -- de tendência conservadora --, a princípio foi bem crítico da proposta do presidente, contou Rodríguez Pellecer, do site de notícias Plaza Pública, ao Centro Knight para o Jornalismo nas Américas. O jornal El Periodico foi mais equilibrado, enquanto o Plaza Pública foi mais favorável à proposta, explicou Pellecer, acrescentando que o Prensa Libre está menos crítico nos últimos dias. Em termos gerais, as colunas de opinião estão divididas entre os que estão a favor e os que estão contra a proposta. "Não há, entretanto, uma posição dos jornalistas", afirmou.

Para Pellecer, a regulação das drogas acabaria beneficiando o trabalho jornalístico, já que "acabaria com grande parte da violência".

Outro jornalista guatemalteco, Javier Estrada, disse ao Centro Knight que o tema exigiu dos meios de comunicação uma cobertura bastante ampla e extensa, já que "existe uma necessidade social de conhecer o desenvolvimento e as novidades acerca da proposta do Presidente", especialmente dada a "extraordinária atenção dos veículos nacionais e internacionais". Ele também afirmou que espera "que jornalistas, que muitas vezes são vítimas de agressões e ameaças desses grupos criminais, também percebam a mudança como favorável para a sua segurança no trabalho".

A cobertura da notícia na Costa Rica foi menos intensa que na Guatemala, segundo informou Alejandro Delgado Faith, presidente do Instituto de Imprensa e Liberdade de Expressão (IPLEX), ao Centro Knight. A legalização por si só não ajudará a proteger os jornalistas, disse ele, uma vez que repórteres continuarão a cobrir outros aspectos do fenômeno das drogas. "O negócio do tráfico de drogas é multidimensional e a mídia vai continuar informando conseqüências relacionadas a ele", explicou.

Jose Rodolfo Ibarra do Sindicato de Jornalistas da Costa Rica (Colper), disse que a organização não tomou qualquer posição oficial, embora o presidente do país tenha pedido um debate sobre a legalização das drogas. "Eliminar a criminalização do tráfico de drogas não terá o mesmo efeito de eliminar a proibição (do álcool) por causa dos claros efeitos sobre a saúde individual e social", disse Ibarra ao Centro Knight. "Um monte de jornalistas deram suas vidas em vão para revelar os horrores do tráfico de drogas ... Não podemos permitir que uma ideia com interesses obscuros possa alterar nossas leis sob desculpas absurdas."

Talvez porque o presidente Funes - ele próprio um ex-jornalista - se oponha à proposta, a cobertura em El Salvador tem sido superficial, de acordo com Ricarco Vaquerano, editor do jornal digital El Faro. "Os jornalistas salvadorenhos não se aventuraram a investigar a fundo a questão, se a proposta de Pérez Molina faz sentido ou não", disse Vaquerano ao Centro Knight. "Com exceção de colunistas, ninguém começou a explorar os possíveis benefícios de descriminalizar o tráfico e a comercialização de drogas, que até agora são ilícitos". Jornalistas salvadorenhos em geral não têm se manifestado a favor ou contra a proposta, segundo ele.

O cerne da questão, no que se refere ao jornalismo, é a liberdade de imprensa, acrescentou Vaquerano. "Em El Salvador a liberdade de imprensa não existe já que vários fatores de pressão ou persuasão levam os jornalistas ou os veículos de comunicação a se auto-censurarem na cobertura de organizações do tráfico e da distribuição de drogas ilegais. Definitivamente, legalização e regularização das drogas tem potencial para diminuir os riscos e ameaças às instituições, incluindo a Assembléia Legislativa, tribunais, e a imprensa, mas não elimina o potencial de lucro do contrabando de drogas, mesmo que sua venda seja legal", afirmou.

Vaquerano ainda comentou que é lamentável que o presidente tenha se recusado a debater a proposta quando todas as demais medidas tradicionais de combate ao narcotráfico fracassaram.

Other Related Headlines:
» The Washington Post ( Interview with Guatemala President Otto Perez)

Artigos Recentes