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Durante segunda eleição em seis meses, meios de comunicação venezuelanos continuam divididos

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  • 13 abril, 2013

Por Alejandro Martínez

Na quinta-feira à noite, o presidente interino da Venezuela Nicolás Maduro terminava sua campanha em Caracas ao mesmo tempo que o candidato de oposição Henrique Capriles encerrava a sua, em Barquisimeto, capital de Lara, estado que governou.

Segundo Marianela Balbi, diretora executiva do Instituto Prensa y Sociedad na Venezuela, os quatro canais de televisão estatais e o canal privado Venevisión transmitiram exclusivamente o evento de Maduro (antes, Capriles denunciou que os meios estatais haviam censurado suas mensagens de campanha). Enquanto isso, só o canal privado Globovisión -- que se pronunciou abertamente em favor de Capriles -- cobriu o encerramento do candidato opositor. Nenhum dos canais buscou oferecer tempos similares à cobertura de ambos, observou Balbi.

Após a morte de Hugo Chávez em 5 de março, a Venezuela repetirá as eleições presidenciais neste domingo, 14 de abril, a apenas seis meses dos últimos comícios. E como antes, a cobertura midiática chamou atenção por sua polarização.

“Em relação aos jornalistas, há sempre a discussão do papel que devem cumprir, mas não existe neste momento a disposição de fazer essa autocrítica. Creio que as posições já estão bastante claras”, disse Balbi em entrevista ao Centro Knight.

Como nas eleições do ano passado, alguns grandes veículos anunciaram abertamente sua posição política, o que se reflete em sua cobertura jornalística.

“Alguns jornalistas tem defendido veículos privados sob o argumento de que eles são os únicos que estão oferecendo um contraponto ao governo”, disse Balbi. “Observe como é relevante que a venda da Globovisión aconteça após 14 de abril, a fim de manter a única janela para difundir o movimento de oposição na Venezuela".

Nos veículos impressos financiados pelo Estado também não há nenhum tipo de equilíbrio, acrescentou Balbi. E embora em sua visão só os impressos privados têm buscado um equilíbrio tanto na cobertura quanto na publicação de anúncios de campanha de ambos os candidatos, recentemente Maduro acusou os jornais El Universal e El Nacional de dar a Capriles 80% do espaço disponível para propaganda (Balbi assegurou que apesar de não ter tido nenhum estudo independente sobre a alocação de espaço para cada candidato durante esta campanha, a Comissão Nacional de Eleições tem controle sobre o tema e aplica sanções).

Em países com climas políticos super polarizados, o desafio para os jornalistas está na necessidade de não se deixar levar pelas paixões e desempenhar seu papel como investigadores e analistas, disse a jornalista colombiana e especialista na cobertura de eleições María Teresa Ronderos.

“Em um nível pessoal, os jornalistas têm suas posições políticas. Quando o que está em jogo é tão grande, é difícil dizer, ‘vou analisar friamente quais têm sido os progressos e fracassos do governo’. É muito difícil, mas é uma tarefa que precisa ser feita”.

Em um fórum especial criado dentro do Curso Massivo e Aberto Online do Centro Knight “Como Cobrir Melhor as Eleições”, do qual Ronderos atualmente faz parte, os participantes discutiram os problemas nas investigações nestas eleições, como a ausência de transparência nos gastos de campanha ou o desequilíbrio de acesso à mídia dos candidatos.

Ao mesmo tempo, o fórum em si é um microcosmo de comentários com pouca verificação que demonstram a necessidade de jornalismo rigoroso, Ronderos disse.

“Se é certo que se gasta muito dinheiro nas campanhas, não se citam números concretamente. Essas coisas se tornam rumores que no final têm mais a ver com suas posições”, afirmou. “Como avaliar se o partido que quer se reeleger cumpriu seu dever? Você tem que investigar.”

Mas apesar do intenso clima generalizado de polarização, Ronderos disse que alguns veículos e jornalistas venezuelanos se destacaram por seus projetos de jornalismo investigativo. Citou, por exemplo, Emilia Díaz-Struck, que fez parte da equipe de jornalistas de 46 países que participou de uma investigação massiva de paraísos fiscais em todo o mundo, e os vários ganhadores do prêmio IPYS de jornalismo investigativo na Venezuela.

Antes e durante as campanhas eleitorais do ano passado, vários workshops e cursos foram organizados para promover uma cobertura imparcial das eleições, incluindo um do Centro Knight em colaboração com o Centro Carter. Ronderos disse que vários repórteres investigativos também se beneficiaram desses esforços.

E mesmo que os meios de comunicação continuem polarizados e os jornalistas permaneçam divididos fortemente em suas opiniões políticas, Balbi disse que acha que o jornalismo em seu país vai continuar avançando até um ponto de equilíbrio.

"Eu tenho esperança de que essas mudanças comecem a ser notadas quando os níveis de polarização diminuírem", afirmou. "Isso nos afeta em todos os níveis da população, é difícil pedir que isto não afete a mídia."

Nota do editor: Essa história foi publicada originalmente no blog de jornalismo nas Américas do Centro Knight, o predecessor do LatAm Journalism Review.

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