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Jornalistas são agredidos, ameaçados e roubados após tomada violenta da Assembleia Nacional na Venezuela

Ao menos seis jornalistas foram vítimas de diferentes ataques quando um grupo que apoia o governo entrou de forma violenta no espaço da Assembleia Nacional (AN) de Venezuela este domingo 23 de outubro, informou a ONG Espacio Público.

sessão extraordinária que a AN realizava no domingo era uma das mais importantes, publicou o portal Efecto Cocuyo. Na agenda estava previsto debater diferentes assuntos, como a ruptura da continuidade constitucional, a possibilidade de denunciar algumas instituições do Estado para cortes internacionais, a nomeação de novos magistrados para o Supremo Tribunal de Justiça, assim como para o Conselho Nacional Eleitoral, a abertura de um julgamento político contra o presidente Nicolás Maduro, revelações sobre a suposta nacionalidade colombiana do mandatário, entre outros temas.

No entanto, por volta de 1:30 da tarde, quando a sessão já havia começado há duas horas, um grupo de simpatizantes do governo que estavam fora da AN entrou de forma abrupta e violenta nos jardins do local, “e alguns chegaram a entrar à força até o plenário, para manifestar a favor do Governo Nacional”, informou Efecto Cocuyo.

Algumas pessoas chegaram até a mesa diretora e ao palco destinado à imprensa, onde alguns jornalistas foram roubados e agredidos.

Segundo a televisão Telecaribe, seu repórter Gregory Jaimes e sua produtora Yamel Rincón foram roubados à mão armada. Um dos homens que entrou na AN apontou sua arma para Rincón, chamou a jornalista de "opositora" e obrigou que ela entregasse três coletes à prova de balas, afirmaram.

Já a equipe da Globovisión teve uma câmera roubada, segundo Espacio Público. De acordo com a ONG, o equipamento foi jogado no chão e roubado. No entanto, nem o canal e nem a repórter informaram sobre o incidente, e continuaram cobrindo a sessão pelo telefone celular.

Em seu perfil no Twitter, Osmary Hernández, correspondente da CNN em Espanhol, denunciou que membros do grupo tentaram roubar o seu celular e a sua câmara durante a cobertura, mas outros jornalistas impediram o crime.

A jornalista Andreina Flores, correspondente da Rádio França e da RCN, Radio da Colômbia, foi ameaçada por um homem que estava com o grupo nos arredores da AN. “Andreina, hoje sim você vai cair; Andreina, hoje é o seu fim”, disse o homem, segundo Espacio Público.

“Fiquei preocupada porque me chamaram pelo nome. Nós sempre recebemos ameaças do chavismo, mas não assim”, disse a jornalista em uma entrevista ao Espacio Público.

Oswaldo Rivero, jornalista do veículo oficial Venezolana de Televisión, que fazia parte do grupo que entrou na sessão da Assembleia, foi golpeado na cabeça e ficou ferido, publicou Espacio Público.

Nos arredores da Assembleia e antes da entrada violenta no local, o jornalista Luis Gonzalo Pérez, de Caraota Digital, foi ameaçado por um homem que se identificou como do "colectivo" (grupo simpático ao governo). O homem teria dito ao jornalista: "você sabe que não pode estar aqui", publicou Espacio Público.

“Você sabe que o Caraota Digital está com problemas com o governo”, disse o homem ao repórter, segundo a ONG. Esse homem continuou ameaçando o jornalista para que ele saísse do local, porque "quando entrassem ia ser pior".

Depois que alguns deputados governistas conseguiram acalmar os ânimos e que as pessoas deixaram o local, a sessão continuou. Com uma maioria opositora, a AN aprovou o Acordo para a Restituição da Ordem Constitucional na Venezuela - a medida estabelece a possibilidade de realizar um julgamento político do presidente Maduro, informou a BBC.

O Sindicato Nacional de Trabalhadores da Imprensa (SNTP) registrou algumas das agressões contra os jornalistas e exigiu que as autoridades investiguem os incidentes e que garantam o trabalho jornalístico.

O secretário-geral do sindicato, Marco Ruiz, anunciou que denunciaria, ao Ministério Público, os ataques aos jornalistas. “Condenamos a violência, o desconhecimento das instituições e a responsabilidade do prefeito [de Caracas] Jorge Rodríguez”, disse Ruiz, segundo o portal Runrunes.

É importante lembrar que os jornalistas só puderam voltar à Assembleia Nacional em 5 de janeiro de 2016, depois de seis anos proibidos de cobrir temas da legislatura no local. A proibição foi imposta em 2009, mas, com a chegada da nova Assembleia, com maioria de oposição ao governo, os jornalistas foram liberados para trabalhar no local.

Nota do editor: Essa história foi publicada originalmente no blog de jornalismo nas Américas do Centro Knight, o predecessor do LatAm Journalism Review.

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