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Organizações exigem que polícia colombiana investigue ataque contra comissão e morte de jornalista indígena Por Silvia Higuera/AM

A Polícia Nacional da Colômbia está sendo acusada como possível responsável por dois ataques contra a liberdade de imprensa ocorridos em lugares diferentes no dia 8 de outubro.

Organizações como a Fundação para a Liberdade de Imprensa (FLIP na sigla em espanhol) e a Federação Colombiana de Jornalistas (Fecolper) exigiram que as autoridades investiguem os casos e punam os responsáveis.

Um dos ataques ocorreu no domingo à tarde, em Tandil, perto do município de Tumaco, no departamento de Nariño. Policiais atiraram com armas de fogo e lançaram granadas de atordoamento contra uma comissão acompanhada de equipes jornalísticas dos veículos El Espectador, Contagio Rádio, Vice Colombia/Pacifista, City Tv/El Tiempo e a revista Semana, de acordo com a FLIP.

A comissão humanitária era composta por integrantes de diferentes organizações internacionais, como a ONU e a OEA, além de representantes de autoridades locais, como do governo de Nariño. Eles foram investigar o massacre de seis agricultores, mortos em Tumaco em 5 de outubro, e cuja autoria também é atribuída à Polícia Nacional, de acordo com um relatório da Ouvidoria-Geral da República.

De acordo com a revista Semana, a polícia estava no topo de uma montanha e, quando a comissão começou a se aproximar, começaram a gritar para que saíssem, que "eles não podem estar" lá. Embora os integrantes da comissão estivessem identificados com coletes e os representantes do governo tenham gritado que os policiais não podiam atirar, a polícia lançou gás lacrimogêneo, dispararam armas paralisantes. Tiros também foram ouvidos, acrescentou a revista.

A Polícia Nacional emitiu uma declaração em que lamenta a situação e disse que os membros da instituição ativaram duas granadas de atordoamento "que não deixaram feridos" depois que um "número indeterminado de pessoas" tentou forçar a entrada em uma base temporária onde cultivos ilícitos estavam sendo erradicados. Na declaração, a corporação também ofereceu desculpas públicas e disse estar disposta a cooperar nas investigações necessárias.

A FLIP emitiu uma declaração em que afirmou que as explicações da polícia "são insuficientes" e que a instituição "falta com a verdade". A organização exigiu que a agressão seja investigada e que as punições correspondentes sejam estabelecidas, entre outras demandas.​

"Este é um caso sério em que existe a possibilidade de acobertar policiais de denúncias sérias contra eles, ou de usar policiais negligentes e arbitrários que desconhecem os padrões básicos de necessidade e proporcionalidade no uso da força", comunicou a FLIP.

A Federação Colombiana de Jornalistas (Fecolper) disse que vários jornalistas locais e correspondentes em Tumaco asseguraram que "a atmosfera na área é de total silêncio diante do que está acontecendo, não há acesso para a imprensa ao hospital, as vítimas e as famílias não são encontradas [em Tumaco]".

Depois de saber da agressão, o Relator Especial para a Liberdade de Expressão da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), Edison Lanza, escreveu em sua conta no Twitter que a "polícia colombiana deve incorporar proteção de jornalistas em áreas críticas e protestos. Eles são os que investigam e reportam conflitos".

O FLIP enfatizou que, no ano passado, foram registrados 18 casos de ataques à imprensa de autoria da polícia e das forças militares. Destes casos, oito ocorreram durante a cobertura das manifestações sociais, afirmou a organização.

Também no dia 8 de outubro, desta vez no departamento de Cauca, a comunicadora indígena Efigenia Vásquez Astudillo morreu após confrontos entre membros do Pueblo Kokonuko e agentes do Esquadrão Móvel Antidistúrbios (Esmad) da Polícia Nacional.

De acordo com a Organização Nacional Indígena da Colômbia (ONIC), o confronto ocorreu quando a comunidade indígena tentou entrar em uma terra reivindicada por eles, mas que está sendo usada para o turismo, relatou o site RCN.

As autoridades indígenas disseram à FLIP que a comunicadora morreu no hospital, depois de ser transferida, como resultado de lesões causadas por armas de longo alcance.

"A FLIP está verificando se Vásquez estava fazendo trabalho jornalístico durante o ocorrido", disse a organização, e acrescentou que a comunicadora foi reconhecida por sua extensa carreira na mídia indígena do Cauca. "A FLIP destaca o trabalho da mídia indígena e comunitária nas regiões do país."

A Fecolper comunicou que foi informada que a comunicadora costumava acompanhar as manifestações "para se inteirar dos fatos e colaborar com informações na estação de rádio Renacer Kokonuko 90.7 FM".

Nota do editor: Essa história foi publicada originalmente no blog de jornalismo nas Américas do Centro Knight, o predecessor do LatAm Journalism Review.

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