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Poderopedia, a plataforma chilena de jornalismo de dados, será implementada na Venezuela e na Colômbia

O jornalista chileno Miguel Paz, bolsista do Knight International Journalism de ICFJ, lançou junto com um grupo de colegas a plataforma de jornalismo de dados Poderopedia no final de 2012, que tem a função de ajudar a revelar a rede de relações entre as elites empresariais e o governo do Chile. A Fundação Poderopedia, da qual Paz é presidente e cujo objetivo é promover o uso de novas tecnologias para promover a transparência, abrirá este ano seu segundo capítulo latino-americano na Venezuela e seu terceiro na Colômbia.

Nesse sentido, a fundação está fazendo melhorias para garantir que essa plataforma de dados e rede possa ser implementada em diversos países da região, de modo que possa ser alimentada e atualizada continuamente pelos seus usuários.

Em entrevista com o Centro Knight para o Jornalismo nas Américas, Paz conta como foi o processo de nascimento e desenvolvimento da Poderopedia.

Centro Knight: O que é a Poderopedia?

Miguel Paz: É uma plataforma colaborativa que serve para entender a rede de relações entre pessoas, empresas e organizações que têm um papel importante nas notícias atuais, influenciando o nosso dia-a-dia. Essa plataforma, como mapa de conexões, fornece vizualizações de dados que, através da tecnologia, permitem identificar quem é quem, tanto nos negócios como na política.

O software dessa plataforma é o Plug & Play, com a qual se pode criar perfis de entidades, funções, tipos de conexões, vizualizações, definir se o conteúdo é público ou privado, vinculá-lo a outros websites, etc.

Um dos recursos que esta plataforma colaborativa permite incluir é o sistema de conexão da "Interfaz de Programación de Aplicaciones (API)". A vantagem é que ele pode ser aplicado ao próprio sistema ou plataforma de qualquer meio de comunicação ou companhia. Por exemplo, estamos em negociação com uma organização argentina que quer aplicar o sistema de conexão de API para fazer um tipo de LinkedIn internamente.

Por exemplo, na Colômbia há um meio de comunicação independente que investiga e analisa a informação da “parapolítica”, que é o vínculo entre o antigo mundo paramilitar e o mundo da política. Eles já instalaram nossa plataforma para poder usá-la com seu próprio diretório de entidades de parapolíticos e assim poder ver suas interconexões.

CK: Qual é o plano da Poderopedia ao oferecer uma plataforma de dados aberta e livre?

MP: A ideia é abrir capítulos da Poderopedia na região, o primeiro será na Venezuela. No final de outubro realizaremos na Venezuela um workshop de jornalismo de dados com Mariana Santos, uma parceira da ICFJ – Knight International, e duas outras pessoas do New York Times e da School of Data.

Logo depois desse workshop, faremos outro sobre como utilizar a Poderopedia, já que lançaraemos o último capítulo Poderopedia Venezuela junto com o Centro Carter, e o Instituto Imprensa e Sociedade (IPYS em espanhol) desse país. A plataforma será gerenciada primeiramente por pesquisadores da IPYS.

O segundo capítulo seria aberto na Colômbia, com a organização Consejo de Redacción.

Além disso, estamos em negociaçòes com vários meios de comunicação latino-americanos e com diversos projetos relacionados a temas de transparência, prestação de contas, conexões e conflitos de interesse, dos quais, no entanto, não quero atrever-me a falar, mas que estão interessados em utilizar a nossa plataforma. Por exemplo, para projectos em torno das eleições, ao âmbito da justiça, em torno da política.

Isso nos deixa muito felizes, e com isto estamos validando a hipótese que tínhamos originalmente sobre este projeto, que como ferramente pode ajudar a identificar um problema e resolvê-lo. Alegra-nos muito ver a demanda por nossa plataforma.

Agora estamos focados em melhorar o sistema de administração da Poderopedia, o sistema Plug & Play da plataforma original, para alcançar uma versão melhorada mais fácil de usar e de entender, que possa ser utilizada sem a necessidade de um manual.

CK: Sobre os capítulos da Poderopedia na América Latina, por que começar pela Venezuela e Colômbia?

MP: A prioridade é começar pelos países em que se falam as línguas hispânica e portuguesa, a partir da nossa região. Começar pela Venezuela e Colômbia se deve a negociações concretas e ao interesse de organizações locais destacadas, com reputação e capacidade investigativa que tenham manifestado o desejo em realizar a criação de capítulos nesses países. De qualquer maneira, estamos abertos a criar capítulos em outros idiomas e países. O roteiro é flexível e é determinado pelo interesse e capacidade de organizações interessadas em lançar e manter os capítulos. Obviamente, esse interesse primário da Venezuela e da Colômbia também está relacionado às vicissitudes jornalísticas, de transparência, liberdade de expressão, prestação de contas e conflitos de interesse. Também gostaríamos de abrir capítulos na Argentina, Equador, México e Brasil.

CK: Que exemplo de aplicativo jornalístico bem sucedido da plataforma da Poderopedia poderíamos citar?

MP:Muitos jornalistas de meios de comunicação chilenos usam Poderopedia para reisar a informação de contexto sobre um tema específico e descobrir potenciais informações que permitam mais investigações. Meios de comunicação como o El Mostrador, El Mostrador Mercados e Publimetro publicam em seus websites perfis da Poderopedia utilizando a nossa licença Creative Commons que os autoriza a fazê-lo.

Atualmente, pelo menos um desses meios de comunicação está trabalhando com o sistema de conexões da API da Poderopedia para mostrar informações antes das eleições (presidenciais do dia 17 de novembro de 2013 no Chile).

Projetos como Cargografias, da Argenitna, usou os dados da nossa plataforma para construir linhas do tempo.

Da nossa parte, também temos divulgado os conflitos de interesse de autoridades, como o caso do Ministro do Interior chileno que possuía ações de uma empresa de água potável, e o diretor do Serviço de Impostos Internos e sua teia de sociedades. Os perfis dos candidatos a presidência que fazemos também são publicados por vários meios de comunicação, como, por exemplo, a Publimetro, e sua edição especial das eleições de 2013.

Neste link pode-se encontrar um arquivo do nosso blog onde vamos registrando todas as atividades da Poderopedia, sua influência em meios de comunicação em diversas atividades.

CK: Quando e como nasceu a Poderopedia como projeto?

MP: Nasceu enquanto eu era sub-diretor do jornal El Mostrador (o primeiro jorna exclusivamente digital no Chile). Poderopedia era todavia uma ideia no papel quando a apresentamos para o Knight News Challenge do Knight Foundation em 2011. Esse foi o primeiro projeto latino-americano a ganhar o Knight News Challenge, inspirando outros colegas da região a apresentar suas propostas a esse tipo de fundo internacional.

Durante 2012 todo trabalhamos nele, e decidimos lançá-lo às 12:12 a.m. di dua 12/12/12, porque queríamos uma data da qual lembrássemos para sempre e que, além disso, fosse cabalística.

A parceria serviu para promover o uso da plataforma da Poderopedia e a criação de capítulos da mesma. Também para promover a comunidade internacional Hacks/Hackers no Chile e lançar um manual de jornalismo de dados. O objetivo desse manual, ao qual estamos dedicando-nos completamente agora, é dar conta do estado do jornalismo de dados na Ibero-América e como desenvolver esse tipo de jornalismo em nossos países.

O manual estamos fazendo com o apoio da escola de jornalismo da Univesidad Alberto Hurtado. Planejamos lançá-lo entre março e abril de 2013. O objetivo é fazer um manual atlas do jornalismo de dados que inclua a experiência dos diversos países da região, já que cada um difere entre si por temas de segurança, política, acesso a informação, leis de transparência, entre outros parâmetros.

Também organizamos datatones (maratona de extração de dados) e radiotones (maratona de tecnologia para rádio online de baixo custo, entre jornalistas, tecnólogos e pessoas que possam executá-la). Este espaço é criado para que as pessoas conheçam seus colegas de outros países e melhorem suas ferramentas e cohecimendo, podendo ser capazes de fazer mais coisas. O tema do uso da rádio na América Latina é vital, por isso é importante divulgar os recursos tecnológicos com os quais se pode contar para a rádio da região.

CK: Na sua opinião, qual é a situação do jornalismo de dados na América Latina?

MP: Te faço esta analogia: antes estávamos engatinhando e agora estamos dando nossos primeiros passinhos. Não podemos falar de jornalismo de dados a nível latino-americano sem os faróis de iluminação de de uma forma ou de outra estão inspiranfo outros a colocar sua atenção nesse tipo de coisa.

Estamos em um cenário em que sem dúvida isso está se difundindo, as pessoas estão sendo treinadas e os donos dos meios de comunicação estão começando a entender e a valorizar o jornalismo de dados, o vínculo entre jornalistas, programadores e desenhadores trabalhando em uma equipe interdisciplinar, como algo muito relevante para poder realizar projetos jornalísticos de qualidade.

As universidades também estão planejando a inserção da variável tecnológica em suas escolas de jornalismo.

Nesse sentido, o Centro Knight dirigido por Rosental Alves, tem sido sempre uma inspiração gerando movimento em torno de todo o resto. Desde a perspectiva do agrupamento de jornalistas, ao qual Rosental dá muita força, e que graças a sua perseverança tem alcançado muitas coisas. Por exemplo, no Chile, temos há poucos meses a Red de Periodistas de Investigación de Chile, da qual sou membro do comitê executivo.

Nesse sentido, outro aspecto muito importante são os workshops MOOC que se fazem no Centro Knight.

O jornalismo da região precisa acelerar o conhecimento e corrigir erros através de workshops, com gente capacitada que possa explicar em muito pouco tempo, a partir da sua experiência, tudo o que se deve saber, e o que não se deve saber, para poder fazer o seu trabalho. Somente isto gera uma aceleração brutal de conhecimento.

Nota do editor: Essa história foi publicada originalmente no blog Jornalismo nas Américas do Centro Knight, o predecessor do LatAm Journalism Review.

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