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Grupos paramilitares na Colômbia incluem jornalistas em listas de alvo

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  • 10 outubro, 2014

Por Jonathon David Orta

Los Urabeños e Los Rastrojos, grupos paramilitares na Colômbia, publicaram listas de alvos ameaçando um total de dez jornalistas caso eles não abandonem seus postos e deixem as cidades onde trabalham.

De acordo com La Vanguardia, cerca de 160 jornalistas, ativistas de direitos humanos, advogados e lideranças sindicais foram diretamente apontados como alvos dos grupos paramilitares no mês de setembro, trazendo novamente preocupação com a liberdade de imprensa na Colômbia.

Repórteres sem Fronteiras denunciaram as ameaças, pedindo às autoridades para "providenciar proteção aos jornalistas ameaçados, levar a sério este tipo de intimidação e combater a crescente onda de ameaças contra jornalistas na Colômbia”, segundo a vice-diretora do programa, Virginie Dangles.

Oito jornalistas que trabalham na região de Valle del Cauca receberam um aviso em 28 de setembro, quando o grupo paramilitar Los Urabeños prometeu que “aqueles que quebrarem a ordem direta imposta pelos Los Urabeños serão silenciados.”

Em seguida, a carta explica que é direcionada a “jornalistas trabalhando em Cali e Buenaventura que falaram coisas ruins de nós. Nós vemos como vocês tentam se esconder, nós sabemos de tudo. É por isso que estamos dando a vocês 24h para deixarem Buenaventura, e o mesmo para Cali. Se não o fizerem, arcarão com as consequências dos seus atos.”

Em Valle del Cuaca, o grupo citou Henry Ramírez, do Noticias Uno; Cristian Mauricio Abadía, do Red + Noticias; Gildardo Arango, diretor do Noticiero Más Pacifico; Yesid Toro, do El Pais; Julio César Bonilla, do Voces del Pacífico; Óscar Gutiérrez, da Rádio Buenaventura, Álvaro Miguel Mina, da Rádio Q’hubo e Darío Gómez, da Rádio Caracol.

Los Urabeños, um grupo paramilitar que opera no Valle del Cuaca, acusou jornalistas de fornecerem informações falsas e prejudiciais sobre Fanny Grueso “La Chili” Bonilla, que foi descrito como o líder dos Los Urabeños e acusado de supervisionar operações de tortura e manter inimigos do grupo na propriedade de Bonilla em Buenaventura.

A Fundação Colombiana pela Liberdade de Imprensa (FLIP) também denunciou as ameaças, afirmando que "estes atos ressaltam a situação crítica vivida por jornalistas do Valle de Cauca, especificamente de Buenaventura. Este ano, FLIP registrou 10 agressões contra jornalistas na cidade, incluindo o assassinato de Yonny Steven Caicedo, que trabalhava como cinegrafista meses antes de morrer.”

O grupo paramilitar Los Rastrojos apontou 24 pessoas como alvos em uma lista própria apenas dois dias antes, em 24 de setembro. Entre os listados estão líderes políticos, ativistas e, segundo Repórteres sem Fronteiras, dois jornalistas: Leiderman Ortiz Berrio, o editor do diário semanal La Verdad del Pueblo, e Edgar Astudillo, apresentador de um programa na Rádio Panzenú. O aviso, impresso em um panfleto, circulou pela cidadede Montería, capital do estado de Córdoba.

"Se você continuar com o seu proselitismo político, pró-sindicado, pacifista e esquerdista contra a nossa organização, você vai pagar o preço. Nossa paciência tem limites", dizia o impresso.

Em resposta, Camille Soulier, chefe do escritório das Américas da Repórteres sem Fronteiras, disse ao The Guardian que “o governo precisa ir além de dar proteção e tomar ações sistemáticas contra a impunidade para garantir a segurança dos jornalistas."

Apesar do forte aumento das ameaças dirigidas a membros da mídia em setembro, não é a primeira vez que os grupos paramilitares têm como alvo os jornalistas na Colômbia. Em 14 de agosto, Juan Pablo Gutiérrez, um fotojornalista franco-colombiano, foi ameaçado pelo grupo Aguilas Negras, que está ligado ao Los Rastrojos. Gutiérrez está sob ameaça por seu trabalho com o grupo indígena Nukak e a Organização Nacional Indígena da Colômbia, onde criou projetos de documentação e campanhas de fotografias, de acordo com a organização Repórteres Sem Fronteiras.

Os grupos paramilitares também são os presumidos responsáveis por uma invasão à casa de Javier Osuna, jornalista de Bogotá. Em 22 de agosto, de acordo com um relatório publicado pela organização Repórteres Sem Fronteiras, a casa de Osuna foi incendiada e o jornalista perdeu computadores pessoais e outros arquivos contendo 18 meses de investigação sobre as operações dos grupos paramilitares na região do Norte de Santander, ao longo da fronteira com a Venezuela.

Em uma carta aberta, Javier Osuna respondeu:

"Peço à sociedade como um todo para dar mais importância ao jornalismo, porque, como eu, centenas de jornalistas do interior se expõem à violência e arriscam suas vidas para praticá-lo. Eu não vou parar de fazer este trabalho. Vou resistir como os milhares de pessoas que estão sujeitas todos os dias ao flagelo da violência em nosso país. Estou muito orgulhoso do caminho que eu criei com minhas próprias mãos, juntamente com a coragem das centenas de vítimas que continuam a lutar pelos seus direitos."

Nacionalmente, grupos e indivíduos exigiram um fim a esses tipos de ameaças e medidas adequadas do governo. A Colombian Foundation for a Free Press (Fundação Colombiana para a Liberdade de Imprensa) afirmou sua solidariedade com todos os jornalistas ameaçados e pediu à Unidade de Proteção Nacional (UNP) para garantir as medidas de proteção adequadas.

Ombudsman colombiano Jorge Otálora pediu às "autoridades medidas urgentes para proteger esses jornalistas", referindo-se às ameaças emitidas pelos grupos criminosos. Otálora salientou que entre janeiro e agosto deste ano, o estado registrou um número estimado de 93 ameaças contra jornalistas, o que equivale a 51 ameaças a mais do que o total registrado em 2013, de acordo com o El Nacional.

Entre os motivos para o aumento das ameaças aos jornalistas, Otálora citou uma campanha de desmobilização paramilitar de 2006 do presidente Uribe. Em um artigo no El Nacional, ele criticou a política atual do governo, dizendo que o período de análise, 30 dias, para as autoridades decidirem se vão ou não dar medidas de proteção à pessoa ameaçada - é muito longo e que os atuais "serviços móveis ou patrulhas policiais" não garantem proteção .

No contexto de um acordo que busca estabelecer a paz entre o governo colombiano e as Farc, do aumento da força paramilitar, e de um novo período eleitoral, uma imprensa livre e independente é uma preocupação importante na Colômbia.

Nota do editor: Essa história foi publicada originalmente no blog de jornalismo nas Américas do Centro Knight, o predecessor do LatAm Journalism Review.

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